quarta-feira, 3 de março de 2010

Sétima Arte, indicações...Augusto Matheus

Em breve...

Chega de Saudade...Tom Jobim e Vinícius de Moraes



Vai minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser,
Diz-lhe, numa prece
Que ela regresse,
Porque eu não posso mais sofrer.

Chega, de saudade, a realidade,
É que sem ela não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai







Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.
Não quero mais esse negócio de você longe de mim...

O Poema de Parmênides

Da Natureza


Fragmento 1

Os corcéis que me transportam, tanto quanto ao ânimo me impele,
conduzem-me, depois de me terem dirigido pelo caminho famoso
da divindade, que leva o homem sabedor por todas as cidades.
Por aí me levaram, por aí mesmo me levaram os habilíssimos corcéis,
puxando o carro, enquanto as jovens mostravam o caminho.
O eixo silvava nos cubos como uma siringe,
Incandescendo (ao ser movido pelas duas rodas que vertiginosamente
o impeliam de um e de outro lado), quando se apressaram
as jovens filhas do sol a levar-me, abandonando a região da Noite
para a luz, libertando com as mãos a cabeça dos véus que a escondiam.
Aí está o portal que separa os caminhos da Noite e do Dia,
encimado por um dintel e um umbral de pedra;
o portal, etéreo, fechado por enormes batentes,
dos quais a Justiça vingadora detém as chaves que os abrem e
fecham.
A ela se dirigiram as jovens, com doces palavras,
persuadindo-a habilmente a erguer para elas
por um instante a barra do portal. E ele abriu-se,
revelando um abismo hiante, enquanto fazia girar,
um atrás do outro, os estridentes gonzos de bronze,
fixados com pregos e cavilhas. Por aí, através do portal,
as jovens guiaram com celeridade o carro e os corcéis.
E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão
direita tomando, e com estas palavras se me dirigiu:
“Ó jovem, acompanhante de aurigas imortais,
tu, que chegas até nós transportado pelos corcéis,
Salve! Não foi um mau destino que te induziu a viajar
por este caminho _ tão fora do trilho dos homens _,
mas o Direito e a justiça. Terás, pois, de tudo aprender:
o coração inabalável da realidade fidedigna
e as crenças dos mortais, em que não há confiança genuína.
Mas também isso aprenderás: como as aparências
têm de aparentemente ser, passando todas através de tudo ”.


Fragmento 2

Vamos, vou dizer-te _ e tu escuta e fixa o relato que ouviste_
quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar:
um que é, que não é para não ser,
é caminho de confiança(pois acompanha a realidade);
o outro que não é, que tem de não ser,
esse te indico ser caminho ignoto,
pois não poderás conhecer o não-ser, não é possível,
nem indicá-lo[...]


Fragmento 3

[...]pois o mesmo é pensar e ser.


Fragmento 4

Nota também como o que está longe pela mente se torna firmemente presente:
pois não separarás o ser da sua continuidade com o ser,
nem dispersando-o por toda a parte segundo a ordem do mundo,
nem reunindo-o.


Fragmento 5

[...] para mim é o mesmo
por onde hei de começar: pois aí tornarei de novo.


Fragmento 6

É necessário que o ser, o dizer e o pensar sejam; pois podem ser,
enquanto o nada não é: nisto te indico que reflitas.
Desta primeira via de investigação te afasto,
e logo também daquela em que os mortais, que nada sabem,
vagueiam, com duas cabeças: pois a incapacidade
lhes guia no peito a mente errante; e são levados,
surdos ao mesmo tempo que cegos, aturdidos, multidão indecisa,
que acredita que o ser e o não ser são o mesmo
e o não-mesmo, para quem é regressivo o caminho de todas as coisas.


Fragmento 7-8

Pois nunca isto será demonstrado: que são as coisas que não são;
mas afasta desta via de investigação o pensamento,
não te force por este caminho o costume muito experimentado,
deixando vaguear olhos que não vêem, ouvidos soantes
e língua, mas decide pela razão a prova muito disputada
de que falei.
Só falta agora falar do caminho
que é. Sobre esse são muitos os sinais
de que o ser é ingênito e indestrutível,
pois é compacto, inabalável e sem fim;
não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo,
uno, contínuo. Com efeito, que origem lhe investigarias?
Como e onde se acrescentaria? Nem do não-ser te deixarei
falar, nem pensar: pois não é dizível, nem pensável,
visto que não é. E que necessidade o impeliria
a nascer, depois ou antes, começando do nada?
E, assim, é necessário que seja de todo, ou não.
Nem a força da confiança consentirá do não-ser
nasça algo ao pé do ser. Por isso nem nascer,
nem perecer, permite a Justiça, afrouxando as cadeias,
mas sustém-nas: esta é a decisão acerca disso_
é ou não é _; decidido está então, como necessidade,
deixar uma das vias como impensável e inexprimível(pois não é
via verdadeira), enquanto a outra é autêntica.
Como poderia o ser perecer? Como poderia gerar-se?
Pois, se era, não é, nem poderia vir a ser.
E assim a gênese se extingue e da destruição não se fala.
Nem é divisível, visto ser todo homogêneo,
nem num lado é mais, que o impeça de ser contínuo,
nem noutro menos, mas é todo cheio de ser
e por isso todo contínuo, pois o ser é com o ser.
Além disso, é imóvel nas cadeias dos potentes laços,
sem princípio nem fim, pois gênese e destruição
foram afastadas para longe, repelidas pela confiança verdadeira.
O mesmo em si mesmo permanece e por si mesmo repousa,
e assim firme em si fica. Pois a potente Necessidade
o tem nos limites dos laços, que de todo o lado o cercam.
Portanto não é justo que o ser seja incompleto:
pois não é carente; ao [não-]ser, contudo, tudo lhe falta.
O mesmo é o que há para pensar e aquilo por causa de que há pensamento.
Pois , sem o ser _ ao qual está prometido _,
não acharás o pensar. Pois não é e não será
outra coisa além de ser, visto o Destino o ter amarrado
para ser inteiro e imóvel. Acerca dele são todos os nomes
que os mortais instituíram, confiantes de que eram reais:
“gerar-se” e “destruir-se”, “ser e não ser”,
“mudar de lugar” e “mudar a cor brilhante”.
Visto que tem um limite extremo, é completo
Por todos os lados, semelhante à massa de uma esfera bem rotunda,
em equilíbrio do centro a toda a parte; pois, nem maior,
nem menor, aqui ou ali, é forçoso que seja.
Pois nem o não-ser é, que o impeça de chegar
até ao mesmo, nem é possível que o ser seja
maior aqui, menor ali, visto ser todo inviolável:
pois é igual por todo o lado, e fica igualmente nos limites.
Nisto cesso o discurso fiável e o pensamento
em torno da verdade; depois disso as humanas opiniões
aprende escutando a ordem enganadora das minha palavras.
E estabeleceram duas formas, que nomearam,
das quais uma não deviam nomear _ e nisso erraram _,
e separaram os contrários como corpos e postaram sinais,
separados uns dos outros: aqui a chama do fogo etéreo,
branda, muito leve, em tudo a mesma consigo,
mas não a mesma com a outra; e a outra também em si
contrária, a noite sem luz, espessa e pesada.
Esta ordem cósmica eu ta declaro toda plausível,
de modo que nenhum saber dos mortais te venha transviar.


Fragmento 9

Mas, uma vez tudo é chamado luz ou noite
e o conforme a estas potências é dado a isto e àquilo,
tudo é igualmente cheio de luz e de noite obscura,
ambas iguais, visto cada uma delas ser como nada.


Fragmento 10

E conhecerás a natureza do éter e no éter de todos os
sinais e dos raios da pura lâmpada do sol
as obras destruidoras, e de onde nascem,
e conhecerás as obras que rodam em torno da lua de olho redondo
e a sua natureza, e saberás do céu que os tem à volta,
e de onde nasce, e como guiando-o a Necessidade o obriga
a conter os limites dos astros.


Fragmento 11

...como a terra e o sol e a lua
e o éter que a tudo é comum e a Via-Láctea e o Olimpo
extremo e o calor ardente dos astros forçados a nascer.


Fragmento 12

Pois as coroas mais estreitas enchem-se de fogo sem mistura
e as que vêm à noite depois destas, mas com elas lança-se uma parte de [chama.
No meio delas está a divindade que tudo governa;
pois em tudo comanda o parto doloroso e a mistura,
impelindo a fêmea a unir-se ao macho, e ao contrário
o macho à fêmea.


Fragmento 13

Primeiro que todos os deuses, concebeu Eros.


Fragmento 14

Facho noturno, em torno à terra, alumiado a uma alheia luz.


Fragmento 15

Sempre à espreita dos raios do sol.


Fragmento 15a

Parmênides no poema diz que “a terra tem raízes na água”.


Fragmento 16

Pois, tal como cada um tem mistura nos membros errantes,
assim aos homens chega o pensamento; pois o mesmo
e o que nos homens pensa, a natureza dos membros,
em cada um e em todos; pois o mais [o pleno] é o pensamento.


Fragmento 17

À direita os machos, à esquerda as fêmeas.


Fragmento 18

Quando a mulher e o homem juntos misturam as sementes de Vênus,
a força que se forma nas veias a partir de sangues diversos,
mantendo o equilíbrio, gera os corpos bem formados.
Se, contudo, misturados os semens, as forças se opõem,
e não fazem unidade, misturados no corpo, cruéis,
atormentam o sexo da criança com o duplo sêmen.


Fragmento 19

Assim, segundo a opinião, as coisas nasceram e agora são
e depois crescerão e hão de ter fim.
A essas os homens puseram um nome que a cada uma distingue.”



PARMÊNIDES. Da Natureza. Tradução, notas e comentários: José Trindade Santos. São Paulo: Loyola, 2002.

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Leitura e estudo recomendado:

O Poema de Parmênides: Estudo e Comentário, Jeovânia Pinheiro do Nascimento. João Pessoa: UFPB, 2009. Dissertação (Mestrado em Filosofia) Centro de Ciências Humanas Letras e Artes_Universidade Federal da Paraíba.