terça-feira, 28 de outubro de 2008

A dança...Pablo Neruda

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Biografia de Pablo Neruda

sábado, 18 de outubro de 2008

Guernica...Picasso

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Guernica é um painel pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da Exposição Internacional de Paris. Foi exposto no pavilhão da República Espanhola. Medindo 350 por 782 cm, esta tela pintada a óleo é normalmente tratada como representativa do bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães, apoiando o ditador Francisco Franco. Atualmente está no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Compêndio...Augusto M.

Pelos eternos momentos de meditação me deparei com um questionamento, qual palavra seria o compêndio de toda minha filosofia da vida; o que logo me veio foi a idéia de liberdade, e é exatamente isso que constitui o que de fato é ser.
As suas maiores expressões são o amor e o conhecimento, a idéia e a manifestação destas dispõe o Ser, concebem o plano metafísico.
Discorrer sobre a liberdade e consequentemente sobre o amor e o conhecimento merecem um maior tempo, motivo para cessar por enquanto esse discurso.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lua Cheia... Chico Buarque e Toquinho

Ninguém vai chegar do mar
Nem vai me levar daqui
Nem vai calar minha viola que desconsola,
Chora notas pra ninguém ouvir
Minha voz ficou na espreita, na espera,
Quisera abrir meu peito, cantar feliz
Preparei para você uma lua cheia
E você não veio, e você não quis
Meu violão ficou tão triste, pudera,
Quem dera abrir janelas, fazer serão
Mas você me navegou mares tão diversos
E eu fiquei sem versos, e eu fiquei em vão

Todo o Sentimento...Chico Buarque e C. Bastos

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.

domingo, 5 de outubro de 2008

A VIDA É UMA VITRINA...Graciette Salmon

A Vida é uma vitrina de tecidos.
A gente, por instantes,
fica de olhos perdidos
na beleza das telas deslumbrantes.
Depois, entra na loja e vai comprar.
Caixeirinha gentil, a Ilusão
vem vender ao balcão
e não se cansa de mostrar,
não se cansa
de exibir delicados,
rendilhados,
leves panos de Sonho e de Esperança.
As mãos tocam de levena leveza das telas.
Não vá o gesto, por mais breve,
esgarçar uma delas!
Todas tão lindas! Mas a que fascina
não está ali na grande confusão
das peças espalhadas no balcão.
E a gente diz,
num ar feliz:
"Levo daquela rósea, muito fina,
exposta na vitrina."
Logo o Destino vem (da loja é o dono)
e fala sobranceiro, com entono:
"É artigo raro.
Marca, padrão e cor: - Felicidade.
É um artigo de alta qualidade
o mais caro
de todos os tecidos.
São cortes especiais...e estão vendidos!"
E a gente vai comprar do áspero pano
que se encontra na seção do Desengano.

Soneto da Hora Final...Vinícius de Moraes



Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente,
O beijo leve de uma aragem fria.
Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de trevas, aberta em frente.
Ao transpor as fronteiras do segredo
Eu, calmo, te direi: - Não tenhas medo
E tu, tranqüila, me dirás: - Sê forte.
E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

AOS HIPÓCRITAS...Jorge Filó

Jorge Filó(1969 Recife/Pernambuco)

AOS HIPÓCRITAS

Eu vou jogar uma pedra
Na vidraça do teu riso
Pra te deixar indeciso
E pra te fazer chorar.
Não suporto o teu cinismo
E esse teu riso forçado
Eu quero ver sepultado
Na cova do teu azar.

Eu vou te infernizar
Bagunçar tua estrutura
Rasgar a tua figura
O teu espaço invadir.
Consumir tua energia
Elevar tua pressão
Deixar-te na solidão
Só pra não te ver sorrir.

Vou em teu prato cuspir
Destruir teus ideais
Jogar-te pra os canibais
Só pra não te ver feliz.
Quero roubar teu sossego
Todo instante toda hora
Tua paz vou jogar fora.
E ainda pedir bis.

Eu vou ser o teu juiz
Descobrir o teu segredo
Pra saber qual o teu medo
E eliminar teu poder.
Quero sugar o teu sangue
Alimentar-te o pavor
Pra mostrar que a tua dor
É o que me dá prazer.