terça-feira, 19 de maio de 2009

Despertar...Roseane Lima Leão

"Me fascinam a morte e a loucura.
Ambas lembraram-me liberdade!"
Despertar
Uma parte da vida mora em mim.
Um pouco de mim está em toda
parte do mundo...
Azul é o oceano incógnito
dos meus pensamentos
Que se perdem no espaço
como se fossem pássaros,
E voam linge de mim.
Ás vezes chovem lágrimas dos meus olhos
Que parecem tempestades
Chego a me sentir como um barco sem rumo...
É como morrer e descobrir que a morte não
faz sentido
E que a vida me engana como uma criança
Me permitindo ilusões, nas quais escapa das
minha mãos minha própria liberdade
E de sonhos artifícios minha alma viaja...
E quando a morte vier me visitar
Sentarei com ela na calçada
Juntas fumaremos um cigarro
E beberemos o melhor vinho,
Depois caminharemos abraçadas até a
próxima esquina,
E lá nos despediremos e cada qual seguirá seu
caminho sem olhar para trás.
Azul é o oceano.
Roseane Lima leão
Madrigal
Sonhos de sonhos
Pág. 36

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Carta a D. História de um amor...André Gorz


Posfácio
André Gorz é um dos mais importantes intelectuais da atualidade. Filósofo e jornalista, sua produção bibliográfica inclui quase duas dezenas de livros(oito deles já publicados no Brasil), centenas de artigos e de entrevistas, que versam sobre os mais relevantes temas da teoria social e da política contemporânea. Filho de mãe católica e pai judeu, André Gorz, cujo nome verdadeiro é Gerhard Horst, nasceu em Viena, na Áustria, em fervereiro de 1923. Em 1938, foi levado para a Suiça por sua mãe, que queria evitar uma eventual convocação pelo exército nazista; ou mesmo por temer que ele fosse preso por causa da su ascendência judaica, como ocorrera com seu pai quando da ocupação da Áustria pelas tropas de Hitler. Na Suiça, onde permaneceu até o final da guerra, ele estudou engenharia química e entrou em contato com a obra de Jean-Paul Satre, da qual se tornou um dos principais conhecedores.
Radicou-se na França após o fim da Segunda Guerra mundial, onde adotou o pseudônimo André Gorz, com o qual ficou mundialmente famoso. Na França, atuou como jornalista em diversas publicações, com o destaque para as revistas Les Temps Modernes e Le Nouvel Observateur, das quais foi editor, respectivamente, de Política e de Economia. Paralelamente á atividade de jornalista, ele desenvolveu também uma intensa atividade teórica e política, tendo sido um dos principais inspiradores de Maio de 1968. Seus primeiros livros, publicados a partir de 1958, são importantes contribuições ao chamado marxismo-existencialista francês do pós-guerra.
O marxismo-existencialista é uma corrente teórico-filosófica que valoriza a autonomia do indivíduo e se contrapõe ás correntes teóricas que dão prioridade ás intituições e estruturas sociais. É uma corrente de pensamento que se assenta, em grande medida, nas teorias de Jean-Paul Sartre e de Karl Marx. Marz e Sartre são, de fato, os autores que mais parecem ter influenciado o pensamento de André Gorz; e não apenas no início de sua formação. No entanto, sua teoria social transcede a influência dos mestres e mostra-se bastante original, sobretudo em sua capacidade de detectar a dinâmica das mudanças contemporâneas.
Não foi por outra razão que, nas décadas de 1960 e 70, ele se tornou uma das principais referências teóricas para os estudiosos do trabalho e do sindicalismo; na mesma época, um de seus livros, Estratégia operária e neocaptalismo (1964), transformou-se numa espécie de bíblia para os militantes da Nova Esquerda. Sua influência é também perceptível em outras áreas. Assim, a partir da metade da década de 1970, ele voltava sua atenção para o tema da ecologia, sobre o qual escreve três livros (sendo dois deles com pseudônimo: Michel Bosquet) e diversos artigos que se tronaram referência importante para os movimentos ecológicose para os estudiosos da ecologia. Adeus ao proletariado publicado em 1980, causou grande impacto em pesquisadores e militantes de esquerda; o livro colocava em questão postulados antigos e sagrados do marxismo e, por isso, gerou muita polêmica e reações diversas, inclusive algumas adversas. Este livro, juntamente com outros cinco que publicou até 2003, é no conjunto uma das melhores contribuições críticas á irracionalidade da racionalidade captalista em suas diferentes dimesões, da destruição do ambiente natural á mercantilização das relações sociais.
André Gorz é um teórico da questão social e como tal não se limita a fazer diagnósticos de época; ele preocupa-se em formular proposições de políticas públicas que apontem uma solução radical, mas ao mesmo tempo realista, da crise social atual. Por isso, elabora propostas factíveis para a transformação social que vão além da mera reprodução do sistema, mas nem por isso, compartilha com estratégias do tipo leninista. As propostas de redução programada do tempo de trabalho, de uma renda de cidadania e estímulo ás atividades de inegável valor social, mas sem valor de mercado, têm o objetivo de se contrapor a tendência do captalismo contemporâneo de expandir as relações de mercado para todas as esferas da vida. Enfim, sua abordagem da crise social atual é uma crítica radical da mercantilização das relações sociais e nisto difere daquelas das ortodoxias neoliberal, keynesiana e marxista ortodoxa, que professam, todas elas, a mesma crença no trabalho assalariado como uma panacéia para todos os males.
Carta a D.-História de um amor é o último livro de André Gorz; ele o escreveu para homenagear sua mulher, Dorine, com quem partilhou a vida por quase sessenta anos. É possível que muitos terminem a leitura deste livro com um sentimento semelhante ao meu: o suicídio de André e Dorine, em 22 de setembro último, evento que chocou a mim e as últimas outras pessoas, foi um puro ato de amor.
São Paulo, 26 de novembro de 2007
Josué Pereira Da Silva é professor de sociologia no IFCH/Unicamp.
Autor de André Gorz: Trabalho e política (Annablume/Fapesp, 2002) e
organizador da coletânea André Gorz e seus críticos (Annablume, 2006).
Bibliografia
Le trâite, 1958.
La Morale de l'historie, 1959.
Stratégie ouvriére et néocapitalisme, 1964.
Le Socialisme difficile, 1967.
Reforme et révolution, 1969.
Critique de la division du travail, 1973.
Critique du capitalisme quotidien, 1973.
Écologie et politique, 1975.
Fondements por une morale, 1977.
Écologie et liberté, 1977.
Écologie et politique, 1978.
Adieux au prolétariat, 1980.
Adieux au prolétariat (edição aumentada), 1981.
Le chemis du paradis, 1983.
Métamorphoses du travail-quête du sens, 1988.
Capitalisme, socialisme, écologie, 1991.
Miséres du présent, 1997.
L'Immatériel, 2003.
Métamorphoses du travail-critique de la raison économique (reedição), 2004.
Le trâite, édition augmentée, suivi de Le Vieillissement, 2005.
Lettre á D.-Historie d'un amour 2006.