sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Reflexões Sôbre o Racismo...Jean-Paul Sartre

Contra-Capa

Êsse estudo do racismo enfeixa dois ensaios de marcante atualidade: um, sôbre o anti-semitismo que muitos de nós inconscientemente praticamos ao contribuirmos com anedotas para o sagrado mito judeu agiota e apátrida, do Judas contra o qual se poderá unir em momento oportuno e superando as barreiras de classe, tôda uma sociedade cristã; outro, do estupor que atinge o colonizador vagamente paternalista ao perceber o africano reivindicar com orgulho sua condição de negro com que pretenderam marcar sua pretendida inferioridade racial.
Sartre, escritor lúcido e sincero, é por isso mesmo inquietante e inconveniente. Um escritor para homens sem consciência de rebanho.

Orelha

No momento em que o anti-semitismo de nôvo tenta alastrar-se pelo mundo ocidental; em que se travam violentos conflitos raciais na Àfrica do Sul e jovens Estados surgem no Continente Negro, não poderia ser mais oportuno o lançamento destes ensaios de J.-P. Sartre (Reflexões Sôbre a Questão Judaica e Orfeu Negro) enfeixados sob o título geral Reflexões Sôbre o Racismo.
A problemática do bastardo sempre obsedou Sartre, porque típica de nossa atual civilização. Dois bastardos, o judeu e o negro, e a sociedade que ambos gerou e rejeitou, são lúcidamente desmontados e analizados nas páginas que se seguem.
Um dêles, o judeu, é o bastardo amaldiçoado e por isso mesmo sagrado, já que nescessário em momentos de crise á sociedade hierarquizada que o forjou. Amaldiçoado porque indicado matador de Cristo-Deus, duplamente amaldiçoado pela idade média que lhe impôs a pecaminosa mas indispensável atividade de "comércio de dinheiros", a imagem que dêle subsiste em nós é a do avarento, do homem que vive á parte; nós, que o tornamos agiota, e estrangeiro em nossa pátria. Assim abastardo, contra êle será sempre possível provocar ódio irracional de uma pseudoconsciência nacional que independa das hierarquias de classe, a fim de que o empregado se esqueça de que é malpago, para sentir-se irmanado com o patrão ante, por exemplo, um caso Dreyfus.
O outro bastardo, o negro, vítima do colonialismo, tem que viver sob o signo da autenticidade. Um judeu, branco entre brancos, pode negar-se judeu, declarar-se homem entre homens. O negro jamais poderá negar sua côr, signo indelével de sua situação. Não tem subterfúgio possível, sua luta pela liberdade será forçosamente a oposição da sua raça á do opressor, a descoberta mágica da sua inferioridade, a afirmação de sua negritude, a violentação da lógica e da língua que o colonizador lhe impôs. E êste racismo anti-racista é afinal o único caminho capaz de levar á abolição das diferenças de raça.
Os presentes ensaios, em boa hora traduzidos por J. Guinsburg para a Difusão Euroéia do Livro que os apresenta agora em 3ª edição, revelarão ao público brasileiro a lucidez crítica do publicista "engagé" que é J.-P. Sartre.